terça-feira, 22 de junho de 2010

Conheça o felino mais ameaçado de todo o mundo

O lince-ibérico é actualmente o felino mais ameaçado do Mundo, tendo sofrido um processo de regressão acentuada desde o século XIX até ao início do século XXI. Porém, graças a um conjunto crescente de projectos que visam a sua conservação, parece estar a iniciar-se a sua recuperação.

Classificação e morfologia

O lince-ibérico, Lynx pardinus, é uma espécie de carnívoro que pertence à família Felidae. Este trata-se de um animal de dimensões médias, cujo comprimento varia entre 90cm e 120cm e que pesa 9-10Kg, no caso das fêmeas, e 12-14Kg no caso dos machos. Possui uma cabeça pequena em proporção com o corpo e os seus membros robustos terminam em patas com quatro dedos equipados com unhas, que pode recolher completamente.

Possui uma pelagem castanho-amarelada com manchas pretas, que lhe permite passar despercebido no seu ambiente natural, e apresenta como características inconfundíveis a cauda curta com a ponta negra, um conjunto de pêlos compridos nas extremidades das orelhas – os pincéis – e umas patilhas de longos pelos pretos e brancos de ambos os lados do focinho que se assemelham a barbas.

Biologia e Ecologia

O lince-ibérico ocorre apenas na Península Ibérica onde actualmente habita zonas que combinam áreas ricas em arbustos, onde encontra abrigo, e áreas mais abertas – que lhe proporcionam alimento. É uma espécie considerada especialista de habitat porque a sua presença está, na maioria dos casos, associada a áreas de matagal mediterrânico.

Trata-se de uma espécie solitária - os machos e fêmeas adultos só contactam na época de acasalamento – e territorial – os machos adultos ocupam áreas exclusivas que defendem uns dos outros, tal como acontece com as fêmeas. No entanto, os territórios de machos e fêmeas podem sobrepor-se.

Tal como acontece com o habitat, a espécie é também uma especialista em termos alimentares porque alimenta-se maioritariamente de coelho-bravo - um lince adulto necessita de ingerir diariamente o equivalente a um coelho-bravo. Em áreas ou em alturas em que a abundância de coelho é baixa, o lince caça também outros tipos de presas, como roedores, gamos, lebres, patos ou perdizes, ainda que prefira manifestamente o coelho.


A época de reprodução do lince tem um pico entre Dezembro e Janeiro. As crias, em número de 2 a 4, nascem depois de dois meses de gestação em cavidades naturais como troncos ocos de árvores de grandes dimensões ou cavidades rochosas, onde permanecem até aos dois meses de idade. Nessa altura, começam a acompanhar a mãe nas suas deslocações diárias até atingirem 1-2 anos de idade, quando dispersam, isto é, abandonam a progenitora e iniciam a procura do seu próprio território.

Medidas de Conservação em Portugal

Em território português as medidas de conservação do lince-ibérico são implementadas em Sítios da Rede Natura 2000 inscritos na área de ocorrência histórica da espécie e no âmbito de diversos projectos levados a cabo por diferentes entidades.

A aplicação de medidas de recuperação de habitat e das populações de presas no lince encontra-se também a decorrer na Reserva Natural da Serra da Malcata pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade que promove também um projecto de cariz semelhante e demonstrativo no Parque Natural do Vale do Guadiana e no Sítio Rede Natura 2000 com o mesmo nome ao abrigo de uma iniciativa denominada VALLIA – Valorização e Qualificação do Habitat do lince-ibérico no Alentejo.

Com o objectivo de criar um corredor de habitat mediterrânico adequado à conservação do lince-ibérico, a Liga para a Protecção da Natureza está a levar a cabo o Programa Lince, implementado ao abrigo do projecto LIFE “Recuperação do habitat do lince-ibérico no sítio de Moura/Barrancos” a que dá continuidade o Projecto LIFE + “Promoção do Habitat do Lince-ibérico e do Abutre-preto no Sudeste de Portugal”, e na Serra do Caldeirão.

Para além de todas estas acções no terreno, a conservação do lince-ibérico passa também reprodução da espécie em cativeiro, que a nível nacional está a ser levada a cabo no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico.

Filipa Alves - Naturlink

sábado, 12 de junho de 2010

Conheça de perto o Projecto Arara Azul...

O Projecto Arara Azul nasceu quando Neiva Guedes, fazia prática de campo de um curso de conservação da natureza que frequentava e se deparou com cerca de 30 araras azuis pousadas no ramo de uma árvore que lhe despertaram uma paixão e sentimento muito especiais. Quando soube através do seu professor que a espécie corria sérios riscos de extinção devido às fortes ameaças que enfrentava, Neiva decidiu meter mãos à obra por iniciativa própria e inverter esta situação, criando pouco mais tarde, o Projecto Arara Azul. Este projecto funciona sem interrupções desde Janeiro de 1990 e estuda a biologia da espécie, realiza o manejo e promove a conservação da mesma no seu ambiente natural. O projecto tem como objectivos gerais, promover a conservação desta espécie no seu habitat natural, mantendo populações viáveis de araras azuis, sem riscos de extinção a médio e longo prazo de modo a que as gerações vindouras possam também ter o prazer de a contemplar na natureza.


Arara-Azul (Anodorhynchus hyacinthinus)

A Arara Azul possui grande longevidade podendo atingir os 35 anos em estado selvagem e os 60 ou mais anos em cativeiro. Tem preferência por habitar áreas alagadas, matas constituídas por palmeiras e áreas de pasto, sendo ambos estes locais áreas abertas.

Quanto à sua morfologia, esta espécie é considerada o maior psitacídeo do mundo, chegando a atingir até um metro de comprimento, sendo o seu peso variável, podendo chegar aos 1.7 kg. Esta ave é coberta por plumagem azul-cobalto, sendo as penas na face interior das asas e da cauda de cor preta. Possui ainda um amarelo intenso em torno dos olhos, formando um anel e uma fina faixa na base da mandíbula que lhe confere um aspecto muito peculiar. O seu bico é grande, parecendo maior que o próprio crânio, muito forte, curvo e de cor preta. A Anodorhynchus hyacinthinus é uma ave altamente especializada no que respeita à sua alimentação, sendo a sua dieta altamente energética, baseada em sementes de dois frutos, o acurí (Scheelea phalerata) e a bocaiúva (Acrocomia aculeata).

A época reprodutiva da espécie ocorre entre Setembro e Outubro, estando preparadas para iniciar a sua vida reprodutiva entre os 7 e os 9 anos de idade. O local preferido para os ninhos, são as árvores de manduvi. As araras-azuis têm baixa taxa reprodutiva, pois a postura anual é apenas de 1 a 2 ovos e normalmente apenas uma cria sobrevive devido à escassez de alimento.

A Arara Azul possui alto grau de socialização, vivendo em família, bandos ou grupos de 10 a 30 araras que podem ser facilmente observadas nos locais onde se alimentam, e nos dormitórios onde se agrupam ao final do dia. Esta espécie é ainda muito apreciada pela vocalização e interacção existente entre os indivíduos, pela sua curiosidade e pela forma como convivem umas com as outras, sendo muito normal encontrarmos araras a brincar. As araras são também aves extremamente fiéis para com o seu parceiro, dividindo ainda todas as tarefas que impliquem as crias.


Acções executadas pelo projecto Arara Azul:

- Manejo de ninhos naturais e artificiais;
- Manejo, recuperação e instalação de ninhos artificiais;
- Monitorização de ninhos, ovos e filhotes;
- Observação de comportamento;
- Incubação de ovos;
- Envolvimento da população e Educação ambiental;
- Turismo de observação;
- Treinamento;
- Estudos com outras espécies;
- Divulgação;
- ...

Para conhecer mais sobre o projecto Arara Azul visite: http://www.projetoararaazul.org.br/Arara/